Perspectivas setoriais para 2010


Varejo: O setor de varejo continuará sendo um dos mais beneficiados pela retomada da confiança do consumidor e pela contínua tendência de elevação dos ganhos salariais reais, turbinada pela política de valorização do salário mínimo. A atual paridade cambial, com o Real mais valorizado continuará a pressionar os preços dos fornecedores ante a concorrência com os produtos importados, contribuindo para o aumento das margens operacionais das varejistas. Indiscutivelmente o varejo foi pouco abatido pela crise. Os múltiplos fundamentalistas evidenciam que o mercado tem reconhecido este crescimento, diminuindo a margem de segurança do investimento.

Bancos Médios: os bancos médios atuam em diversos nichos especializados. De um modo geral, o ano mostrará a continuidade do aumento da relação crédito/PIB no Brasil, que ainda tem muito a crescer quando comparada a outros países. A diminuição das taxas de juros a nível mundial e no país também tem incentivado a ampliação do crédito.

Os bancos que focam nos empréstimos para a pessoa física, especialmente por meio do crédito consignado, continuarão a reação iniciada ainda no primeiro semestre de 2009, impulsionada pelo aquecimento do varejo e pelo aumento do nível de emprego. Quem foca os empréstimos para a pessoa jurídica, especialmente se for do setor industrial, são os últimos que estão saindo da estagnação no nível de empréstimo combinada com elevada inadimplência. A tendência é que a melhora começou no último trimestre de 2009 e se acentue desde o início de 2010. Por fim, há os bancos médios que atuam também no setor de seguros, que estão em forte expansão no país e devem continuar a apresentar ótima lucratividade. As cotações do segmento dos bancos médios foram das mais afetadas pela crise, caindo até mesmo mais de 80%. Após as espetaculares altas de 2009, algumas ações ainda estão em níveis muito atrativos. A preferência pode se dar pelos bancos que negociam próximo de Preço/Valor patrimonial por ação 1 e que exibiram antes da crise níveis muito bons de retorno sobre o patrimônio líquido. Em algum momento este nível de lucratividade pode convergir, valorizando ainda mais as cotações.

Indústria: A indústria foi o setor mais afetado pela crise, e que apresentou o pior resultado no primeiro semestre de 2009, quando comparado a 2008. Terminou o ano de 2009 com um dos maiores crescimentos relativamente ao mês imediatamente anterior e a tendência é que tenham um início de 2010 muito forte especialmente na comparação anual. Enquanto 2009 foi um ano de ajuste de estoques, 2010 começará como um ano de formação de estoques, o que eleva a sensação de demanda e a produção industrial. O lado negativo ficará com o prejuízo que o atual nível de câmbio traz para as margens operacionais das exportações, que continuarão tendo um nível bastante abaixo dos melhores momentos do setor. Além disso, este câmbio favorece a importação e parte do aumento das vendas no varejo certamente será atendida por meio delas. Nem mesmo a siderurgia estará a salvo da concorrência externa, uma vez que a China em pouco tempo passou de grande importadora a exportadora com excessiva capacidade produtiva. Capacidade esta que continuou crescendo em 2009 mesmo com a vertiginosa queda da demanda por commodities. Benefício maior, então, para as empresas mineradoras, pois a China não possui matéria prima de boa qualidade para produção siderúrgica.

Construtoras: as construtoras continuarão tendo a demanda positivamente afetada pelos fatores que interferem no desempenho do varejo, ao mesmo tempo em que o patamar de juros em níveis muito baixos para a recente história do país permite que uma gama significativa de interessados adquira imóvel. Há muito a crescer na relação crédito imobiliário/PIB, que não passa de 3% no país, quando em vários países é ao menos 10 vezes maior a relação. As construtoras que atendem a demanda da classe de renda mais baixa certamente será a mais favorecida. Significativa também continuará sendo a procura pelos imóveis de até R$ 500 mil, financiáveis por meio do Sistema Financeiro da Habitação, que possui os menores juros para o comprador. Há ainda, a venda de imóveis comerciais que tem apresentado excelente desempenho. Enquanto a taxa de juros estiver nestes níveis, certamente haverá atração para novos interessados. O investidor, no entanto, deverá ser bastante seletivo após as altas apresentadas em 2009 para as ações do segmento: É de se ressaltar que não serão todas as companhias que atendem a baixa renda que conseguirão ter os custos controlados a ponto de exibirem lucros que remunerem o capital empregado. O ideal é selecionar por empresas: a) com múltiplos interessantes, especialmente abaixo da relação P/VPA 2 e que demonstraram a manutenção de lucros mesmo diante da crise; b) que estejam reconhecendo receita inferior ao nível de vendas, elevando a probabilidade que venham a ter desempenho ainda superior em 2010 ao que apresentaram em 2009. O investidor deverá observar atentamente as mudanças contábeis que o setor estará sofrendo, por meio do qual a receita deixará de ser reconhecida conforme a evolução das obras e o nível de vendas para ser totalmente reconhecida no balanço quando da conclusão das obras.

Setor elétrico: O setor elétrico continuará sendo um setor defensivo. Num momento em que os preços das ações estão em níveis mais altos, são uma alternativa interessante, uma vez que as cotações costumam tanto subir menos que o mercado em período de alta, como cair menos quando a queda chega. O segmento deve ser beneficiado com a retomada da indústria. Há ainda diversas empresas no setor que projetam dividendos superiores a atual taxa SELIC. Se considerada a taxa real de juros, então, a atratividade fica ainda mais evidente, com várias empresas exibindo ganhos até mesmo o triplo acima deste nível. A preferência poderá recair pelas companhias melhor administradas conforme os indicadores de perda de energia e de qualidade e que tenham prazos de concessão mais extensos, não estando envolvidas no curto prazo nas discussões sobre a forma em que se dará a renovação. O perigo que tem rondado o setor, além deste do término das concessões, é que há discussões sobre a forma de cálculo das tarifas na ANEEL, objetivando a sua diminuição para os casos em que o mercado cresceu acima das expectativas. O setor também passará por mudanças contábeis que modificarão a forma de depreciação dos ativos, incrementando contabilmente os lucros das empresas em fase inicial de maturação dos investimentos e diminuindo o lucro daquelas que já haviam efetuado parte expressiva da depreciação.

Enquanto 2009 foi o ano das companhias com alto nível de caixa, 2010 tem grande probabilidade de representar o ano das empresas que estejam em segmento com demanda mais aquecida e com capacidade produtiva ociosa. Tais companhias poderão enfim aproveitar os investimentos que fizeram no passado e passar a exibir melhores resultados operacionais. As companhias com níveis de dívida pagáveis também estarão sendo favorecidas com a volta da liquidez e do menor nível de juros cobrado nos empréstimos.

(Anderson Lueders)



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