Um dos momentos mais esperados para o investidor com foco na análise fundamentalista ocorre quando inicia a temporada de balanços financeiros. Estes, quando anuais, devem ser divulgados até o final de março do ano seguinte. Algumas empresas começam a divulgar agora em fevereiro e a maioria concentra-se em meados de março. Os balanços trimestrais, por sua vez, devem ser divulgados em até 45 dias após o encerramento do trimestre.
O balanço é indiscutivelmente uma excelente foto do momento que passa a empresa e uma das mais democráticas formas de acesso à informação a todos os acionistas. Questões importantíssimas vêm à tona e vários aspectos que interferem no desempenho empresarial podem ser constatados.
Por exemplo: você descobre o que a inflação pode fazer com os ganhos das companhias; qual a importância do preço das commodities nos custos e nas receitas; como as variações da moeda impactam no desempenho financeiro e nas margens operacionais; em que medida a restrição de crédito inibe as vendas. Enfim, é o grande momento de eliminar diversas dúvidas e verificar se o cenário traçado na última foto disponibilizada é próximo daquilo que você aguardava.
Com efeito, somos todos movidos pelas expectativas e conforme as notícias vão sendo veiculadas na imprensa formamos as previsões de desempenho. Mas, comumente, tais previsões possuem um viés excessivamente positivo, ou vice-versa, e acabamos por projetar muitos anos à frente uma situação cíclica que deve se alterar se não em 1, mas em 3 anos, por exemplo.
E como muitos no mercado agem desta forma, a expectativa do desempenho pior acaba por aprofundar a queda dos preços das ações de companhias que aparentemente terão resultados declinantes. Quando chegar o balanço, você pode estar diante de uma companhia que efetivamente apresentou um desempenho com queda do lucro de 30%, exemplificando. No entanto, suas cotações poderiam, porque não, já terem caído uns 80%. Neste contexto, e avaliando os indicadores de atratividade fundamentalista, é muito provável estar-se diante de uma oportunidade de compra de ações muito depreciadas.
É evidente que os próximos balanços poder continuar mostrando deterioração do desempenho, mas, assim como o crescimento dos lucros não dura para sempre, a fase crítica também não. A diferença entre a expectativa já precificada e o que de fato virá no balanço apresentado é o gap de ganhos (ou perdas) que você tem se for competente para perceber isto. No curto prazo, tudo é possível, mas, no longo prazo, é o desempenho empresarial que determina o futuro das cotações da empresa selecionada.
Falando brevemente de alguns setores, deve-se prestar atenção em alguns fatores importantes:
- Visualize nos balanços das construtoras o quanto o saldo de “lucros a realizar” que constam nas notas explicativas é suficiente para manter lucros saudáveis e quanto disso é consumido num trimestre. Verifique ainda se o aumento dos custos da construção civil afetou as margens esperadas e como permanece a velocidade de vendas. Para este segmento, o mercado já espera o pior;
- Nos balanços das empresas endividadas em dólar, constate como estaria o resultado sem os efeitos cambiais que não representaram efetivo desembolso de caixa. Se a empresa permanecer apresentando lucro operacional que cubram ao menos os encargos financeiros correntes, sem efeitos extraordinários, pode-se estar diante de uma boa oportunidade. Algumas dessas companhias custam 1, 2 meses de faturamento. Representam maiores riscos, mas também são estas as empresas cujas ações apresentam valorizações no médio e longo prazo superiores a 4 dígitos, quando a crise, futuramente, for assunto do passado;
- No balanço das empresas do segmento de distribuição de energia elétrica, constate se o consumo de eletricidade foi afetado em sua área de concessão em razão da diminuição da atividade econômica. Isto mais provavelmente acontecerá com aquelas companhias que fornecem para o setor industrial;
- No balanço dos bancos médios, especial atenção deverá ser dada a como está sendo a captação, seu custo e o nível de inadimplência. Vai ser possível constatar até que ponto o aumento do spread bancário serviu para amenizar o menor ritmo de concessão de crédito.
- Nas empresas em geral, esteja preparado para visualizar forte retração da demanda, que deve permanecer neste trimestre, em razão da necessidade de muitas empresas ajustarem seus estoques a um novo ritmo de atividade econômica e a um custo maior do capital de giro. Isto pode ampliar a sensação de desaceleração econômica no curto prazo.
Fonte: ADVFN
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