Small caps seduzem por ganhos robustos, com risco de perda irreparável


SÃO PAULO - As estórias surpreendentes da bolsa impressionam somente os leigos. Qualquer investidor com o mínimo de experiência no mercado sabe que ganhos estratosféricos em um curto intervalo de tempo são casos à parte no atual cenário.


O período positivo da bolsa brasileira, que vem de anos consecutivos de valorização, encontrou nas ofertas públicas bombásticas do final do ano passado o seu "garoto-propaganda". O volume de investidores na bolsa avançou consideravelmente, em grande parte pela promessa de lucros substanciais e imediatos.


Mas a realidade é outra. Os grandes atores do mercado doméstico apresentam trajetória ascendente sim, mas longe das promessas que seduziram os "novatos" a entrar na Bovespa. Porém, o desempenho mais "lateral" dos papéis de primeira linha joga cada vez mais o foco nas small caps.


As ações chamadas de segunda e terceira linha da bolsa são assim denominadas por relacionarem empresas com menor patrimônio líquido, volume de negócios e liquidez bem inferior aos grandes players do mercado. Em geral, são empresas menos conhecidas, de investimento bem mais arriscado. Como maior risco pode ser sinal de maiores retornos, as "estórias surpreendentes" da bolsa passam pelas small caps.


A hora das ações de segunda linha -
Os casos são inúmeros para ilustrar esta afirmação. Papéis da operadora Americel, por exemplo, experimentaram ganho diário de mais de 1000% no começo de março. Outros casos são mais consistentes, como o das empresas Haga, Forjas Taurus e Plascar nos últimos cinco anos.


Um exemplo externo vem do índice Russell 2000, por exemplo, um dos mais usados para medir o retorno das small caps norte-americanas. O indicador marcou valorização de 85% nos últimos cinco anos, quase o dobro da alta do índice S&P 500, que reúne as principais empresas da bolsa de Nova York.


As potenciais margens de retorno citadas alimentam esta popularização das small caps. Mas o investidor deve ficar atento a diversas premissas para "entrar" em um papel de segunda linha, uma vez que a promessa de ganho estratosférico vem atrelada à possibilidade de perdas irreparáveis.


Não se esquecendo dos riscos, vale ressaltar que a obtenção do investment grade e o recente desempenho das ações de primeira linha podem sugerir que a hora é das small caps. O upgrade do rating brasileiro tende a elevar consideravelmente o volume de investimentos estrangeiros no mercado brasileiro, cujos principais papéis já encontram-se em grande parte precificados.


Fuja destes pontos -
Antes de relacionar os principais pontos que o investidor deve avaliar na escolha de uma small cap, é importante relacionar os tópicos de maior risco a que ele está exposto nesta escolha.


A falta de informações precisas sobre o rumo destes papéis torna os famosos fóruns do mercado um ponto de encontro de investidores que comentam, como analistas credenciados, o potencial e fundamentos dos papéis de "segunda linha".


Mas é importante ter muito cuidado com estes veículos. Vale ressaltar que o conteúdo dos mesmos não vem das instituições que os abrigam, sendo completamente abertos à opinião pública. A liberdade de opinião acompanha em grande parte das vezes tópicos e informações tendenciosas, e que podem mexer com o volume destas ações.


Para Clodoir Vieira, estrategista da corretora Souza Barros, outro ponto de extrema importância é a liquidez destes ativos. De acordo com o analista, uma boa estratégia em small caps é fugir da baixa liquidez, uma vez que o investidor corre o risco de não conseguir sair do ativo no momento desejado, sendo que na hora de sair, as vezes tem de "derrubar" sua posição. Entre esta premissa, a dica de Vieira é "entrar, pegar a onda e sair".


Como escolher a small cap? -
Para o investidor que busca garimpar as boas oportunidades escondidas na bolsa, alguns pontos fundamentais devem ser levados em conta.


Além da baixa liquidez, um dos principais problemas das empresas de "segunda linha" é a falta de informações mais precisas e transparentes sobre os balanços e estrutura operacional e administrativa.


Este ponto, além de fundamental, parece ser indispensável. Caso as informações sejam de difícil acesso, uma dica dos analistas é tentar entrar em contato com a empresa, que pode passar também por uma análise do conteúdo do endereço eletrônico da companhia.


Atenção com os balanços e o volume de negócios -
Clodoir Vieira ressalta que por se tratarem de companhias abertas, os balanços financeiros e releases destas empresas estão disponíveis no site da Bovespa ou da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).


Para o analista, uma avaliação dos releases operacionais é fundamental, mas cuidado com valores que podem ser "mascarados".


"Dados 'ajustados' só servem para embelezar o balanço", coloca o analista, lembrando que o que interessa mesmo são os resultados líquidos no final do resultado, livres de qualquer base de cálculo "amenizadora".


Já para Fernando Góes, da Win (home broker da Alpes Corretora), um sinal de bruscas oscilações que podem estar por vir são alterações bruscas no habitual volume de negócios destas ações.


O analista ressaltou que esta é uma importante premissa para sinalizar oportunidades de "entrada" em alguma small cap, mas se restringe a posições de curto prazo.


Fonte: Infomoney


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